quarta-feira, 7 de outubro de 2015

Resenha sobre o filme BARRA 68 por Leo Sampaio

O filme da vez exibido no Cine Molotov com seu projeto na trajetória dos 50 anos do golpe militar, trata-se de uma narrativa que resgata a memória dos episódios vivenciados durante os anos de chumbo na (UnB) – Universidade de Brasília. O diretor Vladimir Carvalho nos trás imagens resgatadas de estudantes que captaram o terror do aparelho repressivo do Estado nas mãos do regime ditatorial.
No início dos anos 60, a construção da Universidade de Brasília, significou a concretização de um sonho ousado idealizado pelo antropólogo, escritor e educador Darcy Ribeiro. O intuito de sua realização era proporcionar ali um espaço influente para difusão do saber de forma crítica e consciente, concebida como universidade autônoma que servisse como referência de excelência e capacitação no planalto central. Nas palavras do próprio Darcy que foi então fundador e diretor, vários representantes da comunidade intelectual brasileira estava envolvida neste projeto de “Capaz de colocar o saber humano ao serviço do diagnóstico das causas do atraso do Brasil”.

É preciso esforço para imaginar a cena durante o relato da invasão do campus, uma coisa fora do comum que nos choca ao associar o espaço de estudo e pesquisa com toda a brutal truculência, com a desproporcional investida de guerra, com a utilização efetiva do aparato bélico... “soldados armados, amados ou não”.
O depoimento daqueles que presenciaram ou sofreram a forte repressão ou dos que foram presos nos traz primeiramente o sentimento de revolta e em seguida a condição de tentar refletir sobre a postura violenta diante dos estudantes e profissionais de ensino, situações emblemáticas da paranoia de controle operada pelas autoridades do governo sob o pretexto mal disfarçado de uma segurança nacional, discriminando de forma autoritária os ditos opositores do regime.
Sobre as demissões em massa, capítulo dessa história que pode ser intitulado como grande “diáspora” da universidade brasileira, o famoso arquiteto Oscar Niemeyer que lecionada durante este período, afirma que não havia outra forma.
Após diversas prisões arbitrárias ordenadas na invasão militar os intensos interrogatórios seguiam no Departamento de Ordem Política e Social (DOPS). O absurdo dos abusos, das torturas, das humilhações nas trevas dos porões da ditadura contrastava com a luz simbólica representada por aquela proposta autônoma da UnB. As memórias vivas e emocionadas daqueles que estiram presentes guardam bem registradas a comoção diante dos condenados, lembrando também belos exemplos de solidariedade aos presos e aos perseguidos.
Ao considerarmos a soberania popular como um valor fundamental / imprescindível a defesa da democracia, nada pode ser colocado em compensação à perda das liberdades individuais. Não existe nada de bom quando se aceita uma solução autoritária. 
Leonardo Sampaio – Psicanalista, membro do Cine Molotov

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