sábado, 5 de setembro de 2015

Resenha sobre o filme SUBVERSIVOS ANÔNIMOS por Leo Sampaio

Os tempos sombrios ainda ecoam ultrapassando os limites do bom senso e irrompendo pelo discurso de ódio proclamado por considerável parcela da sociedade que aclamam a volta da violenta intervenção militar. Tal pensamento deturpado pode derivar da ignorância, do medo, do fundamentalismo, do oportunismo. Seja o que for - COVARDES NÃO PASSARÃO!
As marcas estão aí na sociedade em geral, basta observar... e nós do Cine Molotov seguimos em mais uma sessão promovendo reflexões dentro dos pressupostos de memória, justiça e verdade para manter acesa a chama da esperança.   

O recorte pretendido no filme de Antônio Pedrosa Jr., Subversivos Anônimos, busca resgatar a história de militantes dos movimentos populares que foram punidos pelos regimes ditatoriais brasileiros. O autor nos traz depoimentos  daqueles que participaram militando contra a ditadura nos movimentos sociais, nas associações populares da cidade de Bauru (SP), que sofreram perseguições, prisões e tortura. Uma cidade do interior paulistano, que era ponto de referência pelas lutas da classe trabalhadora e pela formação de novas lideranças populares, contava com a União dos Ferroviários da estrada de ferro sorocabana.

Quando veio o golpe de 64, o primeiro movimento foi tirar de circulação as lideranças que poderiam conspirar ou fazer alguma oposição aos golpistas. A classe operária/ferroviária era a mais atuante e mais organizada naquele momento, sendo alvo certo para repressão paranoica do regime militar.
O próprio autor em depoimento faz um relato da repercussão da morte do jornalista Vladimir Herzog nos porões do DOI CODE, cuja simulação mal feita de suicídio chocou a sociedade civil, que passou a se mobilizar, ficando mais atenta ao que se passava e clamando  por anistia dos presos políticos e pela volta dos exilados.
São histórias de pessoas corajosas, histórias complexas, histórias de lutas, homens valorosos como pouco se vê nos dias de hoje, abnegados pela liberdade, pela democracia. Dos bravos que resistiam, que ousaram lutar, mesmo em considerável desvantagem, contra forças armadas, autoritárias e arbitrárias que se instalavam perigosamente.
Subversivos destemidos, sonhadores, se articulavam diante dos dispositivos militares. 

Ousavam enfrentar o governo estabelecido em nome das utopias. Subversivos são os contrários a ordem estabelecida, libertários, revolucionários. Destroem conceitos, quebram paradigmas. Sujeitos moldados para se opor a opressão do sistema. Espíritos transgressores diante do autoritarismo mascarado sob a aparente legalidade constitucional. Subversivos que sangraram nas masmorras ditatoriais em busca de liberdade.
Nas teses sobre a Filosofia da História, Walter Benjamin fala do quadro de um anjo (Angelus Novus) cujo olhar parece afastar-se daquilo que está olhando fixamente. “Os seus olhos estão escancarados, a boca está aberta, as asas desfraldadas. Tal é o aspecto que necessariamente deve ter o anjo da história. O seu rosto está voltado para o passado. Onde ali para nós parece haver uma cadeia de acontecimentos, ele vê apenas uma única e só catástrofe, que não para de amontoar ruínas sobre ruínas e as lança sobre seus pés. 

Ele queria ficar, despertar os mortos e reunir os vencidos. Mas do Paraíso sopra uma tempestade que se apodera das suas asas, e é tão forte que o anjo não é capaz de voltar a fechá-las. Esta tempestade impele-o incessantemente para o futuro ao qual volta as costas, enquanto diante dele e até ao céu se acumulam ruínas. O que chamamos de progresso é esta tempestade.

Leo Sampaio – Psicanalista, membro do Cine Molotov

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