Sejam bem vindos a mais uma sessão do Cine Molotov! Na
exibição seguida do debate de hoje teremos o filme “70“ da
diretora Emília Silveira, ela mesma ex-presa política, conta a
história da liberação de setenta presos políticos, membros de
diversas organizações que lutavam contra a ditadura.
O grupo seria enviado ao Chile após a troca pelo embaixador suíço
Giovanni Enrico Bucher. Quarenta dias depois do sequestro os
presos são libertados e banidos do Brasil sob ordem presidencial.
Quarenta anos depois alguns relatam sua perspectiva deste
inusitado episódio que ficou marcado na história como um dos
mais ousados atos de resistência ao regime militar. A narrativa
traz relatos de vinte membros do grupo libertado, destacando
suas lembranças pessoais.
Entre as organizações subversivas haviam o PCBR –
Partido Comunista do Brasil, a VPR – Vanguarda Popular
Revolucionária, o GAP – Grupo de Ação Popular, a ALN – Ação
Libertadora Nacional, a VAR Palmares – Vanguarda Armada
Revolucionária Palmares.
No contexto dos anos de chumbo, estudantes e operários
reprimidos, torturados e mortos, militares expulsos. Quem iria
reagir? Como resistir? Tempos extremos, medidas extremas...
toda aquela energia reprimida foi canalizada e voltada para o
enfrentamento direto as forças do Estado. Fazer política passava
a ter outro significado, imbuídos de esperança e coragem, tinham
decidido dar a vida pela causa vitória através da guerrilha urbana.
Captura de autoridades estrangeiras, assaltos a bancos e
quarteis estavam entre as estratégias de ação direta subversiva
que passaram de simples questões logísticas à representar ações
de conotação política.
Nas palavras dos que vivenciaram toda aquela luta, se
houveram equívocos nos planos, não foram percebidos
imediatamente, precisavam fazer algo ousado, ficar parado
assistindo não era opção para aqueles que buscavam mudar a
história. Então, tentaram o caminho que se mostrava mais
coerente com o discurso que tinham naquele momento.
Nas palavras de Frei Osvaldo, amigo de Frei Tito que foi
torturado brutalmente nos porões da ditadura, era necessário
aderir e apoiar a militância de oposição para evitar que
continuassem os extermínios e perseguições cometidos de forma
covarde. Assim, a solução para um país ocupado pelas armas,
não seria outra a não ser a resistência pelas armas.
As histórias continuam depois do voo da liberdade, apesar
do sofrimento marcante pelo qual passaram os bravos presos
políticos. O jogo duro da vida de militante, as angústias, suicídios
de amigos e percalços no exílio são contados como páginas lidas
que ficam para serem consultadas, para servirem de referência no
livro da vida de cada um. Estão ali para que possamos seguir,
sabendo que haviam sim companheiros corajosos em
contestação efetiva ao aparelho repressor.
Revolucionários em foco, entre tantos subversivos
anônimos, sacrificaram suas ambições, abriram mão de suas
paixões e experiências de juventude para seguir nobres ideais de
uma sociedade livre, prospera com justiça social.
Leo Sampaio – Psicanalista, membro do Cine Molotov
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