O
filme da vez exibido no Cine Molotov com seu projeto na trajetória
dos 50 anos do golpe militar, trata-se de uma narrativa que resgata a
memória dos episódios vivenciados durante os anos de chumbo na
(UnB) – Universidade de Brasília. O diretor Vladimir Carvalho nos
trás imagens resgatadas de estudantes que captaram o terror do
aparelho repressivo do Estado nas mãos do regime ditatorial.
No
início dos anos 60, a construção da Universidade de Brasília,
significou a concretização de um sonho ousado idealizado pelo
antropólogo, escritor e educador Darcy Ribeiro. O intuito de sua
realização era proporcionar ali um espaço influente para difusão
do saber de forma crítica e consciente, concebida como universidade
autônoma que servisse como referência de excelência e capacitação
no planalto central. Nas palavras do próprio Darcy que foi então
fundador e diretor, vários representantes da comunidade intelectual
brasileira estava envolvida neste projeto de “Capaz de colocar o
saber humano ao serviço do diagnóstico das causas do atraso do
Brasil”.
É
preciso esforço para imaginar a cena durante o relato da invasão do
campus, uma coisa fora do comum que nos choca ao associar o espaço
de estudo e pesquisa com toda a brutal truculência, com a
desproporcional investida de guerra, com a utilização efetiva do
aparato bélico... “soldados armados, amados ou não”.
O
depoimento daqueles que presenciaram ou sofreram a forte repressão
ou dos que foram presos nos traz primeiramente o sentimento de
revolta e em seguida a condição de tentar refletir sobre a postura
violenta diante dos estudantes e profissionais de ensino, situações
emblemáticas da paranoia de controle operada pelas autoridades do
governo sob o pretexto mal disfarçado de uma segurança nacional,
discriminando de forma autoritária os ditos opositores do regime.
Sobre
as demissões em massa, capítulo dessa história que pode ser
intitulado como grande “diáspora” da universidade brasileira, o
famoso arquiteto Oscar Niemeyer que lecionada durante este período,
afirma que não havia outra forma.
Após
diversas prisões arbitrárias ordenadas na invasão militar os
intensos interrogatórios seguiam no Departamento de Ordem Política
e Social (DOPS). O absurdo dos abusos, das torturas, das humilhações
nas trevas dos porões da ditadura contrastava com a luz simbólica
representada por aquela proposta autônoma da UnB. As memórias vivas
e emocionadas daqueles que estiram presentes guardam bem registradas
a comoção diante dos condenados, lembrando também belos exemplos
de solidariedade aos presos e aos perseguidos.
Ao considerarmos a soberania popular como um valor fundamental / imprescindível a defesa da democracia, nada pode ser colocado em compensação à perda das liberdades individuais. Não existe nada de bom quando se aceita uma solução autoritária.
Leonardo
Sampaio – Psicanalista, membro do Cine Molotov